quarta-feira, 12 de maio de 2010

Indagações sobre currículo - Educandos e Educadores: seus Direitos e o Currículo






Miguel G. Arroyo levanta, no texto “Educandos e Educadores: seus Direitos e o Currículo”, um conjunto de indagações sobre currículo. A partir desses questionamentos, o autor nos propõe repensar a organização curricular.
Discutir essa organização não é somente dar voz aos alunos e professores, é também abrir uma caixa que há tempos foi ignorada e/ou esquecida. Dentro dela, existem perguntas de educandos e educadores que não entendem as políticas de currículo. A partir daí, uma questão pode ser ressaltada: as lógicas que estruturam os conteúdos, matérias e disciplinas nos currículos estão voltadas pra que tipo de aluno?
Não é necessário ler vários livros sobre currículo para obter a resposta, basta observar o cotidiano escolar. O currículo é estruturado a partir do aluno idealizado pelo sistema educacional, logo ele é seletivo e excludente. Para comprovar esta afirmativa, basta citar vários problemas vividos pela escola que foram causados pela exclusão. Dentre eles, destacam-se os altos índices de evasão e repetência. Claro que essa problemática envolve diversos fatores, entretanto, acredito que o currículo seja o principal desencadeador do fracasso escolar, pois muitos alunos não se enquadram nas lógicas que se estruturam a partir da realidade da elite.   
Temos uma organização curricular que não leva em conta a diferença (cultural, racial, social e religiosa) presente na escola.  Os educandos que não acompanham os tempos de aprendizagem são considerados “anormais”, isto é, alunos lentos, desnutridos e com problemas de aprendizagem.
Ora, por que o currículo não se estrutura a partir da realidade da escola? Por que suas lógicas insistem em transformar a sala de aula num espaço homogêneo?
Demonstrando que reconhecer a escola como um lugar heterogêneo e que é possível trabalhar com as diferenças, redes de sucesso como a Finlândia reconhecem o ritmo de cada estudante e ajudam os que mais precisam. Segundo a reportagem publicada pela revista “Nova Escola” 09/2008, cujo título é “Como não deixar ninguém para trás”, a Finlândia vem utilizando métodos para que todos os alunos, mesmo os “diferentes”, tenham a mesma qualidade de ensino. O objetivo é fazer com que todos possam aprender, uma vez que isso ajuda como diz Vesa-Pekka Sarmia a “nivelar as diferenças sociais e enfrentar problemas econômicos, que invariavelmente se refletem na escola”. O resultado desse trabalho é ocupar os primeiros lugares no PISA (Programa Internacional de Avaliação Comparada). Ainda segundo a revista, o país possui 1% de repetência; 2º lugar no PISA (leitura) e 2º no PISA de (matemática). Já o Brasil apresenta resultados não muito animadores: 19% de repetência; 53º lugar no PISA (leitura) e 54º no PISA de (matemática).
Acredito que esse título possa ser o  princípio norteador da nova concepção curricular. Ele sugere exatamente o que é necessário para o sistema educacional brasileiro: uma estrutura preparada para as diferenças.
Reorientar o currículo significa desconstruir o ordenamento dos conteúdos que discrimina os “diferentes” e que privilegia uma visão tecnicista. Segundo Arroyo (2007, p.24) “As demandas do mercado, da sociedade, da ciência, das tecnologias e competências, ou a sociedade da informática ainda são os referenciais para o que ensinar e aprender.” Em nosso sistema, essa prática está tão arraigada que ela passa a ser indispensável no processo de construção do conhecimento.  Todavia, essa lógica nega ao educando o direito de ter uma formação voltada para a história e cultura do seu povo.
Em suma, o currículo condiciona o trabalho dos professores,  como diz o autor:


[...] o currículo é o pólo estruturante de nosso trabalho. As formas em que trabalhamos, a autonomia ou falta de autonomia, as cargas horárias, o isolamento em que trabalhamos...dependem ou estão estreitamente condicionados às lógicas em que se estruturam os  conhecimentos, os conteúdos, matérias e disciplinas nos currículos. (ARROYO, 2007, p.18).

                        
Os educadores não podem ousar em sala de aula. Eles ficam à mercê da organização curricular. Para Geertz (1989), a cultura é como um conjunto de mecanismos de controle do comportamento. Portanto, se o currículo faz parte da cultura escolar e suas lógicas ditam as formas de trabalho dos docentes, ele nada mais é do que a ferramenta que controla o espaço escolar. 

Referências bibliográficas:

http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/planejamento...


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